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quarta-feira, setembro 28, 2005

Autopsicografia

Fernando Pessoa

Cancioneiro

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sentes.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


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